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Se você gosta de filmes que mexem com a sua mente, que brincam com as linhas tênues entre presente e passado, e que mergulham fundo no psicológico dos personagens, A Ligação (The Call) — longa sul-coreano lançado pela Netflix — merece um lugar de destaque na sua lista. Não apenas pela narrativa surpreendente, mas pelo modo como amarra os elementos do suspense, do terror psicológico e da ficção científica numa obra visualmente impactante e emocionalmente densa.
Dirigido por Lee Chung-hyun, o filme estreou em 2020 e rapidamente ganhou notoriedade por sua trama envolvente, suas reviravoltas ousadas e pela atuação visceral de suas protagonistas. Mas A Ligação vai além de ser “apenas” um filme de suspense: ele faz o espectador questionar suas escolhas, a linearidade do tempo e a fragilidade da realidade.
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A seguir, vamos destrinchar essa obra que conquistou os fãs de thrillers psicológicos, sempre mantendo a linguagem envolvente e acessível para quem ainda está decidindo se vale apertar o play — ou não.
Uma ligação, duas vidas: o ponto de partida de um pesadelo
Imagine atender a um telefonema vindo do passado. E mais: descobrir que a pessoa do outro lado da linha pode mudar o curso da sua vida — para melhor ou pior. Essa é a premissa inquietante de A Ligação.
O filme acompanha Seo-yeon (interpretada por Park Shin-hye), uma jovem que volta à casa de infância e descobre um telefone antigo. Um dia, ele toca. Do outro lado da linha está Young-sook (vivida por Jeon Jong-seo), uma mulher do passado — literalmente: ela vive naquela mesma casa, só que vinte anos antes.
O que começa como uma comunicação curiosa se transforma em uma relação perigosa e desesperada. Young-sook está prestes a cometer atos terríveis, e Seo-yeon percebe que tudo pode mudar — para o bem ou para o mal — dependendo do que for dito naquela ligação.
Tempo como prisão — e como arma
O elemento mais fascinante do filme talvez seja sua forma de lidar com o tempo. Diferente de narrativas que viajam entre épocas usando máquinas ou portais, A Ligação conecta passado e presente por um simples telefone. Essa escolha aparentemente simples traz uma tensão constante e um ritmo sufocante.
A cada conversa, o destino de Seo-yeon se molda conforme Young-sook altera eventos do passado. E essas alterações são imediatas — um corte rápido, um som estranho, uma memória que desaparece. O espectador, assim como a protagonista, é forçado a acompanhar essas transformações em tempo real, o que cria uma atmosfera de instabilidade permanente.
Mais do que um recurso narrativo, o tempo em A Ligação se torna uma personagem. Ele manipula, corrige, pune. E como toda boa ficção especulativa, o filme não subestima o público: exige atenção, interpretação e, principalmente, empatia.
As protagonistas brilham — e assombram
Um dos pilares da força dramática de A Ligação está nas atuações poderosas de suas protagonistas. Park Shin-hye entrega uma Seo-yeon contida, marcada por traumas e silenciosamente desesperada. Mas é Jeon Jong-seo quem rouba a cena com uma performance que beira o insano — e isso no melhor sentido.
Young-sook é um personagem que muda de forma, humor e intenção. Em minutos, ela passa da vulnerabilidade tocante à psicopatia cruel. E Jeon Jong-seo faz isso com uma naturalidade que arrepia.
Essa dicotomia entre as duas mulheres — uma buscando reparação, a outra, controle — carrega o filme em tensão crescente. A relação delas é complexa, cheia de camadas. O espectador se pega torcendo, temendo, duvidando o tempo todo.
Estética sombria, fotografia hipnótica
Visualmente, A Ligação é impecável. A fotografia carrega uma paleta de cores frias e escuras, que conversam com a atmosfera de suspense psicológico. As mudanças temporais são sutis, mas notáveis: o passado é ligeiramente mais vibrante, mas envolto em sombras; o presente é quase claustrofóbico, mesmo em espaços abertos.
A direção de arte é detalhista, e isso se reflete em elementos simbólicos como os objetos que desaparecem ou se transformam conforme o tempo é reescrito. Pequenas mudanças no ambiente geram grande impacto — tanto para os personagens quanto para o espectador.
A trilha sonora também cumpre bem seu papel: silenciosa quando precisa, sufocante nos momentos de tensão, quase ausente nos mais perturbadores. É como se o filme soubesse que o silêncio pode ser mais aterrorizante que qualquer grito.
As reviravoltas: um jogo de xadrez entre o passado e o presente
Prepare-se para ser enganado. A Ligação é um daqueles filmes que parecem te entregar tudo de bandeja — até virar a mesa. E depois virar de novo. E mais uma vez.
As reviravoltas não são gratuitas, mas sim orgânicas e bem construídas. A cada escolha de Seo-yeon ou Young-sook, o tabuleiro muda. Pequenos detalhes se tornam cruciais, e a tensão se acumula como um elástico prestes a estourar.
O clímax do filme é de tirar o fôlego — e ainda assim, não é o fim. A cena final é um golpe de mestre: ambígua, provocadora e corajosa. Vai gerar discussões, teorias e talvez até a vontade de reassistir tudo para pegar pistas que ficaram despercebidas.
Não é só um suspense: é sobre traumas, culpa e escolhas
Embora vendido como um thriller, A Ligação é mais do que um jogo de causa e efeito. No fundo, trata-se de traumas não resolvidos, da culpa que corrói e da ilusão de que poderíamos consertar tudo se tivéssemos uma segunda chance.
Seo-yeon não quer apenas mudar o passado — ela quer apagar a dor, reescrever a história da própria perda. Young-sook, por outro lado, quer moldar o futuro a qualquer custo, não importa quem precise ser sacrificado no caminho.
Essa tensão emocional entre memória e desejo dá profundidade à trama. E nos leva a refletir: e se pudéssemos mesmo mudar o passado? Seria isso um presente — ou uma maldição?
Pontos fortes e fracos — porque todo filme merece um olhar crítico
Pontos fortes:
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Roteiro criativo e bem amarrado
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Atuação impecável de Jeon Jong-seo
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Trilha e fotografia que intensificam a tensão
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Reviravoltas impactantes, sem forçar a barra
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Reflexões profundas sobre culpa, perda e destino
Pontos fracos:
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Alguns espectadores podem se perder na linha do tempo se não prestarem atenção
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O ritmo é mais lento no início, o que pode afastar os mais impacientes
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Certas explicações ficam implícitas demais, deixando dúvidas propositalmente abertas
Vale a pena assistir?
Definitivamente, sim — principalmente se você aprecia filmes inteligentes, bem produzidos e que não subestimam sua capacidade de interpretar.
A Ligação não é um filme para assistir mexendo no celular. É do tipo que exige presença, atenção e um pouco de coragem emocional. Mas a recompensa vem: uma experiência intensa, provocadora e memorável.
É um daqueles filmes que te deixam inquieto mesmo depois dos créditos. Que geram conversas. Que fazem você voltar e rever cenas com outros olhos. Em tempos de produções genéricas, A Ligação é um respiro — sombrio, tenso, mas incrivelmente original.
Para quem é este filme?
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Fãs de suspense psicológico e thrillers coreanos
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Quem gostou de O Chamado, Efeito Borboleta ou Dark
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Espectadores que apreciam tramas complexas com reviravoltas inteligentes
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Pessoas que gostam de finais abertos e teorias para discutir no grupo de amigos